Evento promove modelos de negócios sustentáveis para o cooperado

Evento promove modelos de negócios sustentáveis para o cooperado


"Nos preocupa a sustentabilidade dos negócios dos associados da cooperativa. O fato de se organizar esse tipo de evento é para dar subsídios aos produtores para que possam ter informações sobre as tendências dos negócios na agropecuária e começarem cada vez mais a fazerem um planejamento estratégico de suas atividades para que seus negócios possam ser sustentáveis". 

O pensamento expresso por Frans Borg, Presidente da Castrolanda, sintetiza as ações desenvolvidas durante 1 º Fórum de Sociedades Empreendedoras organizado pela Cooperativa para produtores de Leite e interessados. No evento foram apresentados três casos de formação de sociedades de produtores para suprir a falta de espaço para expandir atividades, buscar escala de produção, diversificar, buscar eficiência na atividade, e agregar investidores aos negócios. 

"Em 1990 um produtor que obtivesse 200 Litros de Leite por dia com média de 10 Litros/vaca/dia tinha resultado econômico. Hoje não tem mais. Há produtores que desejam diversificar suas atividades em função das famílias que estão crescendo e eles precisam aumentar a receita dentro das propriedades. 

Mas para o produtor fazer isso sozinho está cada dia mais difícil. O valor a ser investido fica alto. Um modelo que pode viabilizar isso são os produtores trabalharem em sociedades de produtores, que é o conceito de condomínio", detalha Henrique Costales Junqueira. Gerente de Negócios Leite, da Castrolanda.
 
De acordo com o Gerente, a intenção neste primeiro evento foi trazer três casos mostrando que há produtores que conseguem se unir e tocar um negócio conjunto. E que isso traz ganhos em competitividade, em qualidade de vida.

"Nosso objetivo foi provocar uma discussão sobre esse assunto", informa Junqueira.
 
"São três exemplos de casos que mostram um determinado caminho para os produtores. Não são os únicos. Mas são três iniciativas de grupos de produtores de formarem sociedades para serem mais eficientes", finaliza o Presidente Frans Borg.

Grupo Melkstad 
Megaempreendimento une agricultura e pecuária 

No começo eram três interessados em montar leiteria. Todos vizinhos. Então, ao invés de cada um montar a sua, ao lado da outra, do vizinho, decidiram se juntar para montar um empreendimento grande. Com isso, diluíam os riscos, aumentavam a capacidade de investimento, diluíam o custo fixo, diluíam o custo da mão-de-obra, aumentavam a escala de produção. Depois ingressaram mais dois sócios: um deles apenas investidor, outro um agricultor interessado em verticalizar sua atividade, que assumiu a recria, a produção de volumoso e, em troca passou a levar todo dejeto para adubar suas lavouras.
 
Assim surgiu o Grupo MelkStad, formado por associados da Cooperativa Frísia, de Carambeí, que em fevereiro de 2015 começou a operar um empreendimento leiteiro destinado a abrigar 1.800 vacas em lactação, mais 350 vacas secas e de pré-parto, todas dentro de um confinamento composto de 6 barracões, onde pretende chegar a um volume de produção de 70 mil litros/dia. 

"O que nós temos aqui é uma minicooperativa. O cooperativismo influenciou nosso projeto. A nossa região só tem o perfil que possui hoje graças às cooperativas. É um modelo que deu certo e tornou a região conhecida no Brasil inteiro. Então nós temos mais é que copiar o que está dando certo", costuma dizer o zootecnista Diogo Vriesman, gestor da Fazenda MelkStad. 

Tudo é grande no empreendimento: são 25 funcionários, 3 turnos de ordenha, um carrossel capaz de atender até 320 vacas por hora com 50 postes. Corredores muito largos e barracões bem altos (entre 15 e 17 metros) cumprem a função de propiciar um efeito chaminé, dissipando o calor. E a localização estratégica, a 1.160 metros de altitude, favorece a climatização, dispensando o uso de ventiladores.
 
A preocupação com a sustentabilidade está presente no reaproveitamento do esterco (que é separado em sólido e líquido), no reaproveitamento da areia das camas, no reaproveitamento da água da chuva recolhida dos telhados para limpeza da sala de espera, no biodigestor (em montagem) que deve gerar 50% da energia consumida na fazenda.
 
"Nós estamos sempre buscando inovação e conhecimento, mas não pretendemos que fique só conosco, mas que se transmita para a cadeia. Nós geramos informação e conhecimento e queremos que esses insumos sirvam para fortalecer a cadeia. De nada adianta sermos grandes, fortes, ter volume e melhores margens dentro de uma cadeia fraca. Pretendemos que fazenda seja um centro de difusão de conhecimentos, e até mesmo de seu próprio modelo", informa o zootecnista Vriesman.
 
Entusiasta da arquitetura do empreendimento, o consultor econômico e ex­coordenador de economia da Fundação ABC, Tobias Katsman tece elogios e disse que ele "se viabiliza pela união de produtores de leite vocacionados mas com pouca ou nenhuma terra, com agricultores que buscam crescer intensificando o uso da terra com alternativas que valorizam e ampliam o potencial da própria atividade. E assim decidem caminhar juntos".

Condomínio Rosário 
Terra, capital e trabalho em harmonia 

A dificuldade de encontrar grandes áreas agricultáveis na região, o alto valor do investimento a ser feito que se dilui quando praticado em conjunto, a possibilidade de produção em escala, o atrativo da diversificação de investimento, e a perspectiva de trabalhar em sociedade. Esses foram os principais desafios que Levaram um grupo de 13 associados da Castrolanda, interessados em expandir seus negócios agrícolas, a organizar o Condomínio Fazenda Rosário. 

Alex Mittelstedt, gestor do Grupo, conta que a organização teve origem a partir de área adquirida pela cooperativa no ano de 2003 para repasse ao grupo. Hoje 9 produtores participam do condomínio. As cotas variam de 4% a 20%. A Terra foi paga com recursos próprios. Todos os equipamentos do condomínio foram comprados novos. A movimentação do condomínio, venda de cotas, distribuição de resultados e outras tratativas são todas questões regradas por contrato. Um administrador eleito (Alex) toca o dia-a-dia da organização, cuida da parte contábil, fiscal, tratativas com bancos, agrônomos, e outros profissionais. O administrador conta com o suporte de dois conselheiros para decisões cotidianas. Para decisões consideradas de maior relevância usa­se a reunião mensal ou chama-se uma reunião extraordinária. Cada sócio tem direito a 1 voto, independente da quantidade de cotas. Entretanto é preciso ter no mínimo 3% de cotas para ter direito a 1 voto.
 
Trabalhando com milho, soja, feijão, trigo e cevada, o condomínio tem se destacado por sua grande produtividade. Em relação a distribuição de resultados o grupo tem definido que, no mínimo cada participante deve receber o valor equivalente ao arrendamento (pelo valor de mercado) ao final de cada safra. 

Mittelstedt comentou que percebe como vantagens no trabalho em condomínio a facilidade de crescimento 
de cada um dos participantes com a compra em conjunto diante do preço da terra muito alto. Também representam vantagens: as condições de trabalhar em módulos de produção adequados; a montagem de uma escala competitiva de negócio; a diversificação de atividade trabalhando em conjunto; o acompanhamento do custo real do negócio; a liquidez na venda de cotas, uma vez que os outros participantes estariam interessados em absorver a eventual parte de um sócio que queira se retirar do negócio.

Para o gestor, a iniciativa da cooperativa de trazer os associados para conhecerem as formas de trabalhar em conjunto é muito saudável, porque os fatores de produção: terra, capital e trabalho normalmente estão dispersos. "Quando se monta uma sociedade a gente consegue otimizar esses fatores numa atividade de produção. E isso funciona para qualquer setor de atividade", disse o executivo do Condomínio Rosário. 

Condomínio Dália 
União e alta tecnologia para pequenos produtores 

O Programa Associativo de Produção Leiteira, mais conhecido como Condomínio Dália, é um empreendimento de união de vários pequenos produtores de leite construído e organizado pela Dália Alimentos, marca pertencente à Cooperativa dos Suinocultores de Encantado – Cosuel, do Rio Grande do Sul. A Cooperativa abate 2.500 suínos e industrializa 780 mil Litros de leite por dia. Seu faturamento alcançou R$ 1,1 bilhão em 2015.
 
O condomínio é composto por 4 granjas Localizadas nos municípios de Nova Bréscia, Roca Sales, Arroio do Meio e Candelária, cada uma com capacidade de alojamento para 262 animais. O Programa envolve 60 famílias distribuídas nos 4 empreendimentos produzindo leite de maneira associativa, com sistema de ordenha robotizada. Os projetos das granjas foram desenvolvidos pela cooperativa em parceria com a Delaval.
 
Dos 4.500 associados à cooperativa, 2.147 produzem Leite, sendo que 8% produzem abaixo de 12 litros/ vaca/dia,67% produzem entre 12 e 24 Litros/vaca/dia, e 25% dos produtores produzem acima de 24 Litros/vaca/dia. 

O diagnóstico que levou à montagem do Programa constatou que: a mão­de-obra nas propriedades era insuficiente para o plantio, colheita, armazenagem, manejo e ordenha dos animais; havia elevada carga horária e difíceis condições de trabalho com absorção total da família, inexistindo feriados, finais de semana ou férias; as instalações e equipamentos utiliza­dos eram ultrapassados e não havia condições de investimento; os filhos não demonstravam interesse em manter a atividades dos pais, buscan­do alternativas diferentes. 

Diante desse cenário foi concebido um projeto onde a Prefeitura Municipal cedeu a área para instalação do projeto, a terraplanagem do terreno, energia elétrica e poço artesiano. A cooperativa responsabilizou-se pela estrutura física, os equipamentos, assistência técnica, e o encarregado da granja. Os produtores entraram com os animais, produzem a silagem, cuidam da administração. 

De acordo com o Programa, a receita do produtor é proveniente do resulta­do da venda do leite do condomínio, da venda da lavoura de milho para silagem, e da recria de novilhas feita por alguns deles. O que viabiliza o projeto, segundo os técnicos da cooperativa é a assistência técnica intensiva; a otimização da mão-de-obra e equipamentos (anteriormente eram 60 famílias trabalhando de maneira independente; 60 tratores, 60 ordenhadeiras, 60 instalações recebendo manutenção e depreciando); o ganho de preço no leite devido o aumento do volume; o ganho de eficiência na utilização de insumos e melhora dos índices zootécnicos; e a existência de uma linha de crédito com juros de 4,5% ao ano, através do FINEP. 

A definição pelo uso do Sistema VMS (ordenha voluntária) surgiu como alternativa para o problema de mão­de-obra, em atenção aos conceitos de bem-estar animal, sanidade da glândula mamária e qualidade do leite produzido. A Dália Alimentos, de acordo com o zootecnista Fernando de Oliveira de Araújo, acredita nos modelos de produção associativo e enxerga neles a solução para o ganho de escala, profissionalização e consequentemente uma alternativa para a agricultura em pequenas propriedades rurais.