Período de Transição – Seis semanas decisivas na vida de uma vaca

Período de Transição – Seis semanas decisivas na vida de uma vaca


Por Edison Lemos

O chamado período de transição das vacas, que compreende as três últimas semanas pré-parto e as três semanas logo após o  parto, foi objeto de fórum especial que reuniu cerca de 250 participantes no Memorial da Imigração Holandesa no último sábado de outubro. Organizado pela Área de Negócios Leite, através do setor de assistência técnica e do Comitê de Pecuária de Leite, o evento trouxe a Castro renomados especialistas no assunto, professores doutores, todos brasileiros, atuando há mais de 15 anos nos EUA.

No período de transição, como conceituou o professor  Rodrigo de Almeida abrindo o ciclo de palestras, a vaca passa por profundas alterações metabólicas e fisiológicas na preparação para o parto e para a futura lactação. Ocorrem grandes alterações hormonais pela proximidade do parto, com aumento de estrógeno, de glicorticóides, de prolactina, queda de progesterona, subida de GnRH, queda de IGF-1. Há uma grande demanda de micronutrientes para síntese de colostro, um desenvolvimento contínuo da glândula mamária, um rápido crescimento fetal. Além disso, frequentemente a vaca é mudada de ambiente, sendo obrigada a reencontrar o seu espaço o que é muito estressante. Como consequência, vacas e novilhas sofrem depressão de consumo, comendo até 30% menos, o que está na raiz de muitos de seus problemas.  

Precisamos fazer mais

"Muito do que acontece durante essas 6 semanas vai repercutir por toda lactação da vaca. Então se essa vaca for bem cuidada, bem alimentada durante esse período, sua chance de ter uma lactação de sucesso vai ser muito maior. Tanto do ponto de vista produtivo quanto do ponto de vista reprodutivo, ou seja, vai reemprenhar mais rápido. Além disso, essa vaca é uma forte candidata a ter problemas de saúde, como hipocalcemia, cetose, metrite, retenção de placenta, deslocamento de abomaso", disse o professor Rodrigo de Almeida.

O foco de sua apresentação foi tentar mostrar que a vaca leiteira recém parida, quando mal manejada provavelmente vai ficar doente. E na nossa região, segundo ele, aproximadamente 40% a 50% das vacas recém-paridas apresentam pelo menos uma ocorrência de enfermidade. Mas disse que a situação do período de transição já foi pior. As boas fazendas já investiram em muitas melhorias nos últimos anos, em relação a conforto, melhores instalações, melhor nutrição. Entretanto a vaca é tão delicada, tão sensível que talvez ainda não seja o suficiente, e precisa-se fazer ainda mais.  

Tenha um plano de ação
"Doenças são ruins porque trazem complicações que vão muito além do que ter que tratar a vaca. Trazem prejuízo imediato e prejuízo a longo prazo, porque o risco de descarte é maior, há redução na reprodução e redução na produção de leite. Infelizmente há muita doença em vacas de leite. Uma em cada duas vacas nos primeiros dois meses de lactação será diagnosticada com alguma doença clínica. E a maior parte das doenças (cerca de 70% dos diagnósticos) vão ocorrer nas primeiras três semanas de lactação", disse por sua vez o professor José Eduardo Portela Santos, da Florida University/ EUA, ao falar sobre a importância do período de transição para a saúde, produção e reprodução em vacas leiteiras.

Para o professor e pesquisador, o produtor tem de estar consciente de que vale a pena investir nesse período de final de gestação e início de lactação, que é o período de transição, para reduzir a incidência de doenças. Porque doenças que ocorrem nesse período afetam a lactação como um todo. Segundo Portela, o produtor precisa contar com um plano de ação para reduzir ao máximo possível essas ocorrências. E o ponto fundamental continua sendo o conforto da vaca (espaço físico, acesso a alimento, lugar para descansar, conforto térmico, e tudo que envolve o manejo diário da vaca).

O segundo ponto é a manipulação da dieta para reduzir Cetose e Hipocalcemia. O terceiro ponto é a Metrite, onde parte da prevenção envolve cuidados com a vaca no momento do parto. Seja treinamento do pessoal para assistência ao parto, minimizar a assistência, higiene. E por último as mastites, que tem implicação na reprodução, produção de leite e tudo mais.

Tudo isso, de acordo com José Eduardo, significa que o produtor precisa ter um nível de aceitação para doenças cada vez menor. Toda vez que isso acontecer ele vai implementar métodos para prevenção. Não é correto aceitar que nas primeiras oito semanas de lactação metade das vacas vão ficar doentes.  

Manejo é tudo de bom
Para o médico veterinário, professor e extensionista Ricardo Chebel, também da Florida University/EUA, apesar de haver muita tecnologia hoje em dia que tem se revelado eficaz no controle de doenças e na melhora da produção, essas tecnologias sem o manejo básico tem pouca valia. E manejo básico significa água de boa qualidade, água suficiente para as vacas, espaço de cocho, boa forragem, espaço para deitar e descansar, sombra, aspersão de água para esfriar a vaca, ambiente sem estresse. "Sem essas coisas básicas as tecnologias que a gente vem desenvolvendo não tem muita utilidade", garante.

No entendimento de Ricardo Chebel existem várias estratégias que tem se revelado eficientes, vão continuar existindo e devem aumentar em número. Mas o básico continua sendo água, comida, conforto e menos estresse, porque é isso que faz a diferença. As boas fazendas, que tem sucesso, segundo ele, não alcançam essa condição porque usam antibiótico xís ou hormônio ípsilon, ou aditivo ou suplemento mineral ou vitamínico. Não é esse o motivo. O motivo do sucesso é porque elas sabem manejar vacas. Chebel enfatiza que o sucesso do período de transição é quando a incidência de doenças é baixa, a produção é alta, e a reprodução é boa. Então, não se consegue estimar o quanto se ganha, mas o quanto se perde por causa de deficiência de manejo. E as perdas são muito variáveis por fazenda, podendo ir de 90 dólares até 500 dólares, por doença.

Se o produtor tiver 10% de doença em 1000 vacas são 100 vacas doentes. Se o custo da doença é de 150 dólares o custo anual chegará a 15.000 dólares. Se a incidência da doença passar de 10% para 20% o custo subiu para 30.000 dólares. Então a questão é o quanto se perde por aumentar o risco por problema de doença nos animais. "Estamos muito satisfeitos e muito felizes com o evento", disse Junio Fabiano dos Santos, coordenador de assistência técnica da Castrolanda ao final do Fórum. "Optamos por escolher o que havia de melhor em termos de professores neste assunto. Isso permitiu que se tivesse um dia produtivo, onde as pessoas puderam se relacionar, fazer perguntas, aproximar dos palestrantes. Então, apesar do alto nível de conhecimento e abordagem, as coisas foram simplificadas para a realidade das fazendas para que o produtor enxergue o período de transição com outros olhos. E entenda que as ações do departamento, como criação de suplementos alimentares e estratégias de monitoramento, são ferramentas que vem em auxílio do cooperado", disse o médico veterinário.  

O QUE DISSERAM OS PRODUTORES

"O que me trouxe a este fórum foi a preocupação em me manter atualizada em relação ao assunto, aos novos trabalhos desenvolvidos. Aproveitei a oportunidade que surgiu e também o sábado que é um dia bom, sem apuros. As palestras e os participantes do eventos estiveram em alto nível. Não foram palestras para estudante."
Luciana Faisano
Produtora Associada da Cooperativa Witmarsun – Palmeira (PR)
 
"A iniciativa da Castrolanda foi do mais alto padrão. Todos os três palestrantes são técnicos da mais alta capacidade, não apenas no Brasil, mas no mundo, incluindo o Rodrigo Almeida que é brasileiro, trabalha e mora aqui. O sistema de pesquisa dos EUA está adiantadíssimo, possui dados fantásticos, que tem ajudado muito a pecuária de leite. A discussão desses temas foi muito interessante e vai colaborar demais com a eficiência da nossa produção."
Raul Guimarães
Produtor Associado da Cooperativa Frísia – Carambeí (PR)  

OS PARCEIROS

"O período de transição é fator que pode levar ao sucesso ou ao fracasso da atividade. Como empresa nossa participação neste Fórum é bastante importante já que a DSM tem uma parceria com a Castrolanda no fornecimento de produtos para fabricação de suplementos minerais. O evento é oportuno para divulgar as tecnologias que dispomos para contribuir na melhora da rentabilidade do produtor."
Leopoldo Braz Los – DSM Produtos Nutricionais Brasil
"O relacionamento da Nutron/Cargill com a Castrolanda acontece há 20 anos. E a chave do sucesso tem sido criar ferramentas, produtos e serviços para trazer a melhor solução para o produtor de leite. A Castrolanda e a Nutron crescem porque o cliente delas, o produtor de leite cresce junto. E essa é a importância desse sinergismo."
Davi Araujo – Gerente de Tecnologia Latam/Cargill
"Esse tipo de evento é muito bom porque promove a interação entre as empresas parceiras, os produtores e os técnicos. Ele permite a transferência de informações nos três viés do sistema de produção. Esperávamos mais produtores, mas como havia bastante técnicos, confiamos que essa informação chegará ao produtor. Nossa parceria com a Castrolanda tem sido bem intensa nos últimos anos, especialmente por conta da implantação de um programa de monitoramento do período de transição que nos permitiu criar inclusive um produto específico para essa fase."
Leandro Greco – Gerente de Serviços Técnicos / Kemim