Ordenha robotizada nos campos da Castrolanda

Ordenha robotizada nos campos da Castrolanda

O futuro chegou a Castrolanda. Com a entrada em funcionamento do primeiro sistema de ordenha robotizado da América do Sul na Fazenda Santa Cruz de Baixo, o produtor Armando Rabbers tornou-se pioneiro na adoção da mais moderna tecnologia de extração de leite criada em todo o mundo. Nada mal para quem iniciou na atividade há pouco mais de 3 anos, com apenas sete vacas, e chegou a tirar 1.700 litros/dia no sistema balde ao pé.

O salto espetacular não aconteceu de repente. Na verdade, foi construído aos poucos. Descendente de pioneiros da Colônia, tradicionais na atividade leiteira, Armando acabou assumindo agricultura, criação de suínos e ovinos quando fez-se a divisão das propriedades da família, mas a produção de leite sempre fez parte de seu histórico familiar. Isso durou até o dia em que o irmão Lucas flagrou um funcionário seu buscando leite num vizinho e lhe deu uma vaca para o uso da fazenda. Depois, ganhou de presente um equipamento balde ao pé conquistado por Lucas no torneio leiteiro do Agroleite 2010, acompanhado da seguinte sentença: "agora tu vai tirar leite, a máquina tá aqui, te vira, meu!" Aí não teve mais volta. Comprou um tanque, vieram mais vacas, a produção foi subindo, comprou outro tanque.

Agricultor bem sucedido, Armando planta 190 hectares, divididos entre lavouras de milho (60 ha), feijão (25/30 ha) e soja (100 ha), com produtividades calculadas em 10.500 kg/ha para milho, 2.800 kg/ha no feijão e 3.800 kg/ ha para soja. No inverno essa área produz 40/50 ha de trigo comercializado na cooperativa, e o restante se destina à produção de forragens (aveia e azevém) que abasteciam a chácara do irmão Lucas. Agora, essa produção deve ser consumida por sua própria fazenda. O leite entrou nesse cenário como uma oportunidade de negócio. "O que me incentivou a produzir leite foi a cooperativa ter investido numa indústria de laticínios (antes trabalhava com o mercado spot que era muito vulnerável); os meus colaboradores tinham interesse na produção de leite; e mais a oportunidade da integração agricultura/pecuária, já que dispomos de áreas que podem produzir bem, tanto no inverno como no verão", diz ele.

O 'namoro' com o sistema de ordenha robotizada, chamada VMS ou Ordenha Voluntária, era antigo. Desde que havia lido, por indicação de Lucas uma matéria de revista que falava sobre esse tipo de ordenhadeira, Armando ficara com a atenção aguçada e um desejo latente por essa tecnologia 'matutando' na cabeça. Depois que robô leiteiro foi apresentado no Agroleite 2010, começaram as conversas com a DeLaval. Foram muitos meses de reuniões, negociações, definição de orçamento, e discussão para formatação de um projeto. Dentro disso houve inclusive um 'VMS Tour' pela Suécia e Holanda, com Armando e Lucas visitando e conhecendo o sistema em funcionamento para tomada de decisão final, especialmente em relação a layout. Finalmente em fevereiro de 2012 a Fazenda Santa Cruz de Baixo começou a construir o sistema, que ficou pronto e começou a operar em outubro de 2012.

:: O SISTEMA
O sistema de ordenha voluntária (VMS) consiste num braço hidráulico que executa todo procedimento de ordenha sozinho, de forma automática. Identifica a vaca, alimenta, faz a limpeza dos tetos (através de fluxo de água e ar), estimula, tira os primeiros jatos e seca. Feita essa preparação inicia a ordenha. Se a vaca tem três tetos a máquina saberá, porque foi configurada para isso, naquele animal especificamente. As teteiras são colocadas após o laser identificar o posicionamento dos tetos. Todas as informações vão direto para o computador.

As vacas que saem do VMS são separadas automaticamente. Seguem para pista de alimentação, onde tem acesso à comida, água; ou para área de suplementação, onde se consegue individualizar o fornecimento de concentrado. Esses caminhos são percorridos a partir de dois portões de seleção, que direcionam as vacas, a partir da orientação vinda do robô, que ajuda no gerenciamento informando quais vacas a serão ordenhadas e quais não tem necessidade de serem ordenhadas. Assim, o portão cumpre o objetivo de maximizar a capacidade de ordenha do VMS.

Dois robôs estão em funcionamento na propriedade de Armando Rabbers. E cada qual possui sua bomba de vácuo, o que permite o sistema ser mantido "rodando" todo tempo, mesmo quando um deles estiver em manutenção. O barracão conta com piso de borracha, cujo investimento é mais alto, mas proporciona maior conforto para os animais. Cabines de alimentação funcionam como atrativos para os animais virem comer o concentrado, fornecido como suplementação. Atualmente são 250 animais no rebanho e 90 vacas na ordenha. A intenção do projeto é chegar a 140 vacas em ordenha (70 para cada robô) e produzir acima de 2.500 litros ao dia por robô, alcançando um teto de 5.000 litros/dia.

:: RESULTADOS
Foram três semanas de treinamentos dos animais, passando pelos portões até chegar ao VMS. Mas as vacas que antes viviam no pasto e passaram a viver no free-stall responderam com aumento de produção à nova condição: passaram a produzir 5 kg de leite/dia a mais, saindo de 28 kg/dia para 33 kg/ vaca/dia. A partir de então começou- -se a colocar mais animais no free-stall, adaptá-los aos sistema, e dar prosseguimento aos ajustes do dia-a-dia da fazenda.

"Eu ainda estou no aprendizado. Não sei tudo do robô. Ainda não sei o que as vacas querem. Tem vacas que já se adaptaram muito bem. Outras ainda estão se adaptando. Minha expectativa é que seria mais difícil de treinar as vacas. Mas em 3 dias trabalhados a primeira vaca já entrou sozinha no sistema sem necessidade de ir buscar. Já estamos usufruindo o sistema mas ainda temos muito a aprender. Tem muito detalhe a ser visto", admitiu Armando ao avaliar a diferenciada rotina do dia-a-dia perante os produtores, convidados e técnicos que foram à propriedade conhecer a tecnologia no dia 22 de fevereiro.

Em cinco meses de trabalho, segundo dados apurados em parceria com a Cooperativa Castrolanda e APCBRH, Rabbers obteve resultados animadores operando o novo sistema: média de produção por vaca: 35,03 kg/vaca/dia; teor de proteína: 3%; teor de gordura: 3,5%; CCS: 262.000 UFC/ml; contagem bacteriana: 7.000 UFC/ml. Segundo estudos da área técnica da Castrolanda um produtor em sistema confinado tradicional tem eficiência de produzir em torno de 3 a 3,2 kg de leite por quilo de concentrado. Armando Rabbers, com novo sistema, entretanto, já atingiu 3.5 kg de leite por quilo de ração. O que significa 300 gramas a menos por quilo de leite, o que pode representar uma grande economia de custos para o produtor. Ao avaliar o funcionamento do Sistema de Ordenha Voluntária, produtor e técnicos concordam que mudou o foco do trabalho na leiteria. Depois dos animais veio a adaptação das pessoas, que não tiveram mais de acordar cedo, deixaram de ter hora certa para ordenhar. Agora essas pessoas estão limpando as camas, observando os animais para detectar algum problema, o gerente passou a controlar dados de computador, fluxo de caixa, disponibilidade de insumos. O perfil da equipe passou a ser mais gerencial do que operacional. Ou como disse Nelson Carvalho, diretor nacional de vendas da DeLaval: "com esse sistema quebrou-se o paradigma da produção de leite ser aquela atividade tão pesada, de madrugadas e noites de sacrifício, passando a ser uma rotina quase comercial, uma jornada mais humana, com menor dependência de mão-de-obra; esse é o grande benefício".

O gerente de Negócios Leite da Castrolanda, Henrique Costales Junqueira vê mais longe ainda. Para ele a chegada da tecnologia do robô leiteiro à Castrolanda é um retrato da expressão do quanto o produtor da região acredita, investe e está apto à adotar novas tecnologias. Em segundo lugar, no seu entendimento, o robô é uma ferramenta para minimizar o uso de mão-de-obra nas propriedades, cuja carência tende a aumentar em razão da forte industrialização que vem sendo experimentada na região, com a presença de novas e grandes indústrias. Por fim, ele destaca o papel representado pela cooperativa na segurança para o produtor ousar novos e grandes investimentos de produção.