Intercooperação impõe fôlego e modernização às cooperativas do PR

Intercooperação impõe fôlego e modernização às cooperativas do PR

O agronegócio brasileiro está aproveitando iniciativas já adotadas no segmento empresarial para melhorar a produtividade e conquistar mais espaço no mercado. A exemplo das grandes holdings – empresas societárias que fazem a gestão de outras empresas –, o cooperativismo ganhou ainda mais espaço ao unir entidades com interesses e afinidades comuns para potencializar os negócios e melhorar o retorno aos associados.

No Paraná, um exemplo é a Unium, resultado da aliança entre Frísia, Castrolanda e Capal. Em pouco menos de três anos de existência, o faturamento conjunto cresceu 21,6%, impacto que chegou ao bolso dos cooperados, com um aumento de 7,9% no faturamento individual.

O número de cooperados cresceu 45,5% no comparativo com 2014, quando atuavam separadamente. O faturamento nesse período quase duplicou para cada uma das cooperativas – o faturamento individual desde 2014 cresceu acima de 80%.

Hoje são mais de 5,1 mil cooperados e um faturamento conjunto de R$ 7,9 bilhões em 2019. Com atuação nos segmentos de leite, trigo e suínos, a Unium conseguiu melhorar ainda mais os resultados da produção. Diariamente, são processados 3,4 milhões de litros de leite e o volume de carne suína produzida ultrapassa 113 mil toneladas ao ano, além de mais de 129 mil toneladas de trigo processadas em 2019.

VANTAGENS

O diretor presidente da Cooperativa Castrolanda, Willem Berend Bouwman, explica que a Unium nasceu do desejo de as cooperativas se industrializarem. Porém, individualmente, isso não era possível. “Separadamente as cooperativas não tinham tamanho e nem produção escala para fazer isso”, comenta.

Além da industrialização da matéria-prima, há vários outros fatores que contribuem para a intercooperação. Investimento em tecnologia, qualidade dos produtos, fortalecimento da marca e decisões colegiadas são alguns propulsores desse modelo.

O professor e pesquisador Gabriel Sperandio Milan, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), afirma que o acesso ao mercado é uma das principais mudanças percebidas pelas instituições envolvidas em um modelo de intercooperação. Segundo o pesquisador, as cooperativas passam a ter acesso a clientes potenciais de maior porte, competindo com mix de produtos mais robustos, além de ter possíveis ganhos de escala. “São fatores podem repercutir positivamente na redução de custos, preços mais atrativos e, consequentemente, maior lucro e rentabilidade”, explica Milan, que é pós-doutor em Administração e doutor em Engenharia de Produção.

FUTURO

Para a engenheira florestal Nayara Guetten Ribaski, professora na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a conexão entre as cooperativas é vital para esse tipo de negócio. “O intercooperativismo dá força para conquistar mercado e concorrer com empresas maiores”, salienta.

Segundo ela, as parcerias entre as cooperativas são uma forma de estimular o aprimoramento das associadas e de fortalecê-las em suas demandas regionais, uma vez que individualmente elas não têm capacidade para potencializar os recursos e o investimento em maquinário e em tecnologia. “Hoje todos precisam se unir para sobreviver no mercado”, pontua.

Gabriel Milan evita usar o termo “tendência”, mas salienta que o intercooperativismo é uma estratégia que potencializa consideravelmente o fortalecimento do sistema. “Dizer que o intercoperativismo é uma “tendência” não me agrada. Muitos podem associar esta “tendência” aos modismos em gestão. Prefiro compreender o intercooperativismo como uma alternativa estratégica atual e relevante, seja, em um primeiro momento, como forma de sobrevivência de empresas de menor porte, seja, em um segundo momento, como um movimento capaz de gerar crescimento e desenvolvimento sustentáveis para as cooperativas, individualmente, e mesmo para o sistema cooperativista como um todo”, argumenta.

MODELO DE GESTÃO

O modelo de intercooperativismo adotado pela Unium prevê uma estrutura de governança própria, constituído por um comitê misto. Os gestores das três cooperativas tomam decisões em conjunto, compartilhando estruturas de gestão financeira, tecnologia da informação e de recursos humanos. “Cada cooperativa faz o seu trabalho de casa, oferecendo insumos, serviços e lojas agropecuárias para seus associados. Mas a parte industrial é feita em conjunto, mas com cada cooperativa mantendo sua identidade”, explica Bouwman.

O diretor presidente da Frísia, Renato Greidanus, aponta algumas das vantagens já percebidas nesse formato. Segundo ele, entre os principais benefícios estão o ganho de escala, o valor agregado aos produtos, a redução na concorrência e o ganho de competitividade. “Ganhamos mais espaço no mercado e há uma melhoria contínua nos processos, nos índices de produtividade e muito aprendizado na troca de experiências”, afirma.

Segundo ele, diferentemente de um modelo de “cooperativa central”, a intercooperação evita despesas com estrutura administrativa, folha de pagamento, TI e outros itens necessários para a manutenção dessa estrutura.

Greidanus salienta ainda outra questão estratégica nesse formato de negócio: a segurança oferecida aos cooperados, que têm a certeza de que a produção será viabilizada no mercado.

O diretor presidente da Capal, Erik Bosch, diz que os resultados mostram que a parceria das três cooperativas foi a decisão mais acertada. Hoje, salienta Bosch, a Unium oferece produtos mais competitivos no mercado e, no segmento de carnes suínas, conta com compradores em cerca de 30 países, além do mercado interno. “Aqueles que não estão ligados a uma cooperativa precisam de muito capital para encarar um momento como o atual”, afirma, referindo-se à instabilidade provocada pela pandemia de coronavírus.

Somente a Capal registrou um aumento de 87% em seu faturamento no comparativo de 2014 e 2019. “Foram realizados inúmeros investimentos em tecnologia e isso só foi possível porque a Unium tem um volume de oferta”, explica Bosch.