Colônia Castrolanda ganha moderno museu histórico

Colônia Castrolanda ganha moderno museu histórico

“O sonho e a esperança trazidos da Holanda se realizaram no Brasil graças à confiança e a fé depositada em Deus. Ninguém veio por acaso. Todos foram escolhidos. E receberam uma missão que aqui se transformou numa cooperativa, numa escola, numa igreja”. As palavras do religioso Ezequiel de Carvalho acolheram e confortaram pioneiros, descendentes e convidados na abertura dos atos oficiais de inauguração do novo museu Castrolanda.
 

 
Dança, música, discursos, homenagens, emoção, companheirismo, e mais de duas centenas de pessoas compuseram o cenário multicolorido que serviu de moldura para a inauguração da nova sede do Museu Histórico da Castrolanda, na tarde da quarta-feira, 30 de novembro de 2016, data em que a Colônia Castrolanda completava 65 anos de existência. A Casa do Imigrante Holandês, um pequeno museu que durante anos guardou a memória da colônia, cedeu espaço para uma nova construção que resgata a arquitetura colonial da região de origem dos pioneiros da Castrolanda.
 
“Hoje foi uma espécie de volta à casa-mãe de onde os imigrantes saíram, porque até agora o museu estava sob o teto da casa que eles tiveram quando aqui chegaram, uma casa simples, de madeira, com estábulo sob o mesmo teto. Esta casa, durante 25 anos preservou parte da história da imigração. Agora todo acervo volta para ‘a nossa casa-mãe’, onde faz parte da exposição aberta à visitação”, disse Lucas Rabbers, presidente da Associação de Moradores de Castrolanda.
 
“Esta inauguração é resultado do conhecimento e dedicação de muitas pessoas para a concretização deste projeto que conta a história da imigração de nossos pais e avós para que as futuras gerações possam aprender, valorizar e respeitar o empenho dos pioneiros que construíram a Castrolanda que hoje acolhe a todos nós. Esta história agora vai estar disponível nesse local para bem lembrar e incentivar a sociedade de que com trabalho, união e cooperação de todos, as metas e os desafios podem ser alcançados e superados”, disse o pecuarista Rabbers.

A saudação do Consul Honorário do Reino dos Países Baixos para o Paraná e Santa Catarina, foi no mesmo sentido. “Cada vez que passo aqui eu fico muito feliz, porque vejo uma nova conquista. Mas quero juntar às virtudes implantadas pela colonização holandesa de pilares como a igreja, a educação e o cooperativismo, também o voluntariado. Sem essa virtude um museu como esse não poderia ser realizado. E preservar o passado é importante não apenas para as futuras gerações mas também para aprender a não fazer sempre do mesmo jeito, mas fazer melhor”, disse Robert de Ruiter.
 

 
O presidente da Cooperativa Castrolanda, foi mais longe ao saudar o auditório repleto de moradores e convidados: “Quem pensa no curto prazo pensa em ter, fica no imediatismo, na ganância. Quem aprende a pensar no longo prazo pensa em ser alguém. E isso para nós é o maior aprendizado daquelas pessoas que se juntaram na Holanda para formar um grupo e migraram para o Brasil. Se a gente analisar a visão estratégica que esse pessoal teve ainda temos muito a aprender. Eles pensaram na próxima geração, porque não havia  espaço na Holanda. E além disso eles pensaram em igreja, em escola, em cooperativa. Nós devemos memorizar isso como um tributo a nossos antepassados”, advertiu Frans Borg.
 
O Museu Histórico é uma das unidades do chamado Centro Cultural Castrolanda, que congrega também uma biblioteca, a loja de artesanato Artelanda e o Memorial da Imigração Holandesa que ocupa o moinho De Immigrant. Os atos de inauguração contaram com homenagens às senhoras Jantje Morsink e Jantje Kassies, voluntárias responsáveis pela leitura, seleção, catalogação, organização, tradução e arquivo de documentos. Fez-se uma homenagem ainda à senhora Ina Nienhuys.
 
Nove empresas apoiadoras, que destinaram parte de seu imposto de renda para fortalecer a iniciativa cultural também foram homenageadas, entre elas a Cooperativa Castrolanda. Lucas Salomons, morador da colônia holandesa de Arapoti, parabenizou pela iniciativa e fez a entrega do primeiro livro de atas, com registros de junho a novembro de 1950, que descreve as reuniões ainda na Holanda com a intenção de colonização para o Brasil. O Coral dos Fazendeiros cantou o hino “Castrolandalied”, e o Grupo Folclórico Holandês encerrou os atos oficiais apresentando alguns números de dança. Seguiu-se posteriormente um coquetel de confraternização entre os participantes do evento. 
 
“Os 65 anos é uma idade que já poderíamos pensar em aposentadoria, mas nós não queremos parar. A idéia é continuar trabalhando na formação de um Centro Cultural Castrolanda,   patrocinando iniciativas culturais com os recursos da própria comunidade através da Lei Rouanet, para onde seriam destinados parte dos recursos pagos em imposto de renda pelas propriedades rurais”, disse o presidente da Associação de Moradores. O próximo passo já articulado dentro dessa agenda que se iniciou com o Memorial da Imigração e avançou com a inauguração do novo museu, é a construção de um anfiteatro –que “vai acontecer”, segundo Lucas- mas ainda sem data marcada.
 
Estrutura 
A nova sede do museu histórico Castrolanda reproduz a arquitetura de uma casa de fazenda (boerderij) característica da região de origem dos imigrantes holandeses, em que a residência e o celeiro ocupam a mesma construção. O imóvel fica ao lado do Memorial da Imigração Holandesa, o Moinho “De Immigrant”, construído no ano 2001, cuja estrutura é feita totalmente em madeira.
 

 
O novo espaço ampliará os serviços oferecidos pelo museu, que passa a dispor de área para tratamento técnico do acervo (higienização e documentação), área administrativa, sala de reuniões, ampla área de exposições, sanitários e espaço de acolhimento ao visitante. Originalmente o museu foi fundado em 1991 e ocupou a Casa do Imigrante Holandês até o mês de agosto de 2016. A transferência para a nova sede obedeceu a uma série de procedimentos técnicos desenvolvidos pela equipe do Centro Cultural Castrolanda, sob coordenação da Viés Cultural, Museologia e Patrimônio.
 
O visitante que for ao museu vai encontrar os ambientes de uma casa de fazenda, com móveis e objetos das famílias de imigrantes contextualizando o modelo de residência que os mesmos possuíam na Holanda, modelo que foi reproduzido na Castrolanda com emprego de materiais diversos trazidos do seu país de origem.
 
No espaço que representa o celeiro da edificação a exposição apresenta a trajetória da Colônia Castrolanda ao longo dos seus 65 anos, através de  núcleos temáticos, onde se destacam as bases que sustentaram a constituição da colônia: cooperativismo, religião e educação, além de aspectos do cotidiano dos seus moradores. Um  anexo à edificação expõe tratores e implementos agrícolas que fizeram parte das técnicas de produção dos agricultores e pecuaristas da Castrolanda. Jardins resgatam e reforçam a identidade holandesa e rural do complexo.
 
A viabilização do projeto foi possível graças à iniciativa da Associação dos Moradores, à Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, e ao Ministério da Cultura, por meio de projetos que contaram com recursos da Lei Rouanet de incentivo à cultura. E contou também com o apoio de diversas empresas do relacionamento da comunidade, como Tetra Pak, Fertipar, Banco ABC Brasil, BRDE, FMC, Alltech, Arysta e CRV Lagoa.

Parceiros Culturais
“A Arysta é muito empenhada em ações sociais, não apenas através da Lei Rouanet, mas também em iniciativas como o Hospital do Câncer de Barretos, Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba e em algumas ações ecológicas através de escolas e universidades. Aqui na Castrolanda nós consideramos importante dar esse apoio para que se preserve toda uma história e uma cultura dessas pessoas que triveram a coragem e a ousadia de montar toda essa potência que temos hoje. A Arysta se sente muito engajada na preservação da identidade holandesa na região e deseja que ela marque também as futuras gerações. Sempre que pudermos estaremos apoiando a Castrolanda nessas ações”.
Arysta LifeScience / Luiz Claudio Hahn

“A presença da Fertipar nesse empreendimento primeiramente tem a ver com o nosso relacionamento e a nossa parceria de longa data com a Castrolanda. Quando nos trazem um projeto da Castrolanda temos a confiança de que será uma coisa bem feita. Em segundo lugar vem a importância de um projeto desses. Uma iniciativa que resgata e preserva a memória e a história de luta, de coragem, de fé e de trabalho de um povo é muito importante para as futuras gerações. São valores que não podem ser esquecidos. A gente se identifica muito com uma iniciativa tão espetacular como essa, porque entendemos que não dá para pensar no futuro sem olhar para o passado”. 
Fertipar / Juliana Feltman

“Tanto a CRV quanto a colonização em Castrolanda possuem as mesmas raízes: ambas têm origem na Holanda. E qualquer das duas são também muito voltadas para a pecuária e para o crescimento profissional. Então quando foi convidada a participar desse empreendimento através da Lei Rouanet a CRV logo se prontificou, porque se identifica muito com a Castrolanda, pela questão cultural, na busca de manter as tradições, o folclore e os costumes. Então houve muitos motivos, e também porque aqui está a grande vitrine do mercado do leite no Brasil, e nosso intuito é fortalecer a marca CRV numa região de tanto prestígio como esta”. 
CRV Lagoa / Alexandre Webber

O Sentimento dos Pioneiros

Nós temos uma gratidão enorme
“Quando chegamos ao Brasil no primeiro grupo de imigrantes nós éramos uma família formada por pai, mãe, 4 irmãs e 4 irmãos. Nós temos uma gratidão enorme pelos nossos pais, por tudo que eles fizeram, pela importância que eles davam aos valores, à religião, à fé cristã, e ao trabalho em conjunto. Meu pai foi muito dedicado à cooperativa, e a minha mãe era toda alegria e apoio ao meu pai. Então o meu sentimento é de pura gratidão por ter participado dessa história como filha deles e hoje poder preservar essa história”.
Jantje F. de Jager Kassies (chegou ao Brasil com 5 anos de idade)

Essas coisas mexem com a gente 
“Um museu como esse mexe muito com a gente, quando vemos aqueles estábulos, aquelas chácaras antigas. É uma memória importante para nós, para nossos filhos e netos. Eu sempre gostei muito das nossas raízes, da nossa cultura. Quando nossos pais chegaram ao Brasil o que eles mais lutaram para ter foi a igreja, a cooperativa e a escola, onde eu pude estudar. Nós chegamos no terceiro grupo e desde 1952/1953 já tínhamos aula em tempo integral, o que precisava ter no Brasil inteiro, porque ensina a criança a conviver em sociedade”. 
Johannes Strijker (chegou ao Brasil com 3 anos de idade) 

Temos de zelar pelas nossas raízes 
“Eu valorizo muito tudo isso porque eu nasci na Holanda. E quando você não cuida da história você perde as suas raízes. Fui criada aqui mas uma parte de mim também é holandesa. Nós éramos muito crianças, eu e minha irmã gêmea, para perceber as dificuldades da época. Nossos brinquedos eram sabugos de milho que eram nossas vacas, e o tratores eram uns besouros grandes que havia. Tenho boas lembranças desse tempo. Acho que o Brasil é um país tão maravilhoso, com tantas possibilidades. Nós temos que zelar por este país. Nós temos a felicidade de morar num lugar muito abençoado. Temos de repassar isso para nossos filhos e netos, porque nada se consegue sem trabalhar, e a vida era difícil aqui quando nossos pais chegaram vindos de um país pós-guerra.  O brasileiro deve ter mais orgulho do Brasil, porque este  é um país bonito, de muitas oportunidades”.
Harmina Ali Jantina Groenwold Kiers (chegou ao Brasil com 5 anos de idade)

História de trabalho e sucesso 
“É uma grande satisfação chegarmos ao final de um trabalho que era o sonho de muitas pessoas, depois de quase cinco anos de duração. Meu envolvimento neste empreendimento esteve mais concentrado na gestão técnica e menos no sentido afetivo. Não tive a vivência dos pioneiros. Mas acho importante que demos esse primeiro passo. Agora temos de manter essa conquista, desenvolver mais, fazer pesquisa, e divulgar o nosso trabalho. Antigamente, a Casa do Imigrante Holandês abrigava todos os nossos pertences. Agora chegamos a outro patamar, estamos expondo nossa história e nossa cultura”.
Ina Nienhuys Coordenadora de execução das obras