Bem-estar animal amplia caminho de sucesso da atividade leiteira

Bem-estar animal amplia caminho de sucesso da atividade leiteira

Por Edison Lemos

Longe da visão filosófica, mas igualmente  distante da 'receita de bolo', a Castrolanda, em parceria com Elanco e Nutron, reuniu produtores de leite, agrônomos, veterinários, zootecnistas e técnicos da região do ABCW e Arapoti num grande Simpósio Internacional no dia 10 de junho para discutir bem-estar animal. Organizado com uma visão prática do tema, pensando no cliente da cooperativa, no resultado econômico do produtor e na responsabilidade e valores cultuados dentro da instituição, como sustentabilidade econômica, social e ambiental, o evento promoveu a vinda de quatro palestrantes canadenses ligados à Universidade da Colúmbia Britânica, especialistas em bem estar animal.  

 
"O tema tem sido pouco abordado no nosso país. E nos cabe mostrar ao produtor que pensar no conforto da vaca pode resultar em benefício financeiro para ele, uma vez que seu animal vai ter maior longevidade, vai aumentar a produtividade de leite, além de conseguir passar uma imagem para a sociedade de que ele está preocupado com o bem estar do animal e com a cadeia como um todo", disse Junio Fabiano dos Santos, analista técnico da Castrolanda.  
 
"A gente tem ainda um número muito pequeno de consumidores que estão preocupados com o bem-estar animal no Brasil. Mas os nossos principais clientes: Nestlé, Kraft Foods, Danone, Bongran, tem preocupação com o bem-estar animal e entendem que, se tiverem um problema associado à sua manifestar comportamento natural no ambiente em que está sendo mantido", disse. Segundo Jeff quando falamos de dor e sofrimento numa vaca de leite sempre pensamos no período de transição/ inicio de lactação quando há maior risco de cetose, mastite, retenção de placenta. Mas, de acordo com essa estimativa, o maior custo do ponto de vista financeiro é a claudicação, que é pouco falada. Para ele é importante cuidar não somente das vacas em lactação mas também das vacas secas, que precisam ser casqueadas. Se fizer o casqueamento quando ela for seca, o animal vai começar a próxima lactação com maior possibilidade de não ter claudicação, porque o casco foi rebalanceado e preparado para a próxima lactação. Sala de ordenha alinhada à capacidade do barracão, alertou o pesquisador, evita que as vacas fiquem muito tempo em pé esperando serem ordenhadas e tenham reduzido seu tempo de descanso. O objetivo é que as vacas descansem 12 horas ou mais por dia. Do Do ponto de vista de produtividade, se você melhorar o tempo de repouso, você aumenta o fluxo de sangue, mais nutrientes vão para a glândula mamária, você melhora eficiência da ruminação, menos fadiga, menos estresse, maior ingestão de ração e praticamente mais 1 kg de leite por dia. Com uma hora de repouso a mais que as vacas fiquem deitadas podemos conseguir 1 kg de leite a mais por dia", garantiu De Frain. marca, com relação à sua cadeia de suprimentos, elas terão um prejuízo muito grande. E nenhuma delas quer isso. Então esse é um lado que gente deve ficar atento", lembrou Henrique Costales Junqueira, gerente de Pecuária Leiteira da cooperativa. Ele também lembrou que o custo de oportunidade de uma vaca no Brasil é muito mais alto do que em outros países. "Uma novilha próxima ao parto está valendo entre 4 a 6 mil dólares, o que é mais alto do que na Argentina, Uruguai, Estados Unidos. Se nós conseguirmos, através de boas práticas, que esse animal permaneça mais tempo na propriedade produzindo, teremos um impacto econômico importante", advertiu.  
 
Impacto do bem-estar na produtividade 
"Eu gostaria que vocês realmente investissem no bem-estar porque isso está relacionado diretamente a produtividade. É importante estabelecer a conexão entre bem-estar e produtividade porque passamos muito tempo nas granjas falando sobre produtividade e esquecemos o bem-estar. Lembrem, a energia que o animal gasta para lidar com o ambiente negativo, para se proteger do ambiente contaminado, para combater doenças, é energia que deixa de ser usada para produção", disse o palestrante doutor Jeff De Frain.  
 
Pela terceira vez em Castro, o especialista em bovinos de leite ligado à Zimpro Corporation, dos EUA, disse que, se for dada oportunidade à vaca ela escolhe onde quer ficar. Mas uma vez confinada é responsabilidade do produtor cuidar, evitar dor e sofrimento. "O consumidor não quer que o animal sofra ou sinta dor e aí é que nós usamos nossa ciência para detectar a claudicação, a lesão de jarrete, para que o animal consiga manifestar comportamento natural no ambiente em que está sendo mantido", disse.  
 
Segundo Jeff quando falamos de dor e sofrimento numa vaca de leite sempre pensamos no período de transição/ inicio de lactação quando há maior risco de cetose, mastite, retenção de placenta. Mas, de acordo com essa estimativa, o maior custo do ponto de vista financeiro é a claudicação, que é pouco falada. Para ele é importante cuidar não somente das vacas em lactação mas também das vacas secas, que precisam ser casqueadas. Se fizer o casqueamento quando ela for seca, o animal vai começar a próxima lactação com maior possibilidade de não ter claudicação, porque o casco foi rebalanceado e preparado para a próxima lactação.  
 
Sala de ordenha alinhada à capacidade do barracão, alertou o pesquisador, evita que as vacas fiquem muito tempo em pé esperando serem ordenhadas e tenham reduzido seu tempo de descanso. O objetivo é que as vacas descansem 12 horas ou mais por dia.  
 
"Do ponto de vista de produtividade, se você melhorar o tempo de repouso, você aumenta o fluxo de sangue, mais nutrientes vão para a glândula mamária, você melhora eficiência da ruminação, menos fadiga, menos estresse, maior ingestão de ração e praticamente mais 1 kg de leite por dia. Com uma hora de repouso a mais que as vacas fiquem deitadas podemos conseguir 1 kg de leite a mais por dia", garantiu De Frain.  
 
Em relação às necessidades nutricionais e hábitos alimentares Jeff orientou a aumentar o número de refeições. "Eu quero que a vaca coma 14 vezes por dia", disse. No seu entendimento o produtor limita o acesso à ração, seja pela taxa de lotação, seja pelo projeto do cocho, e isso acaba levando à redução do numero de refeições. Se as vacas comem mais de cada vez isso afeta a função ruminal, o Ph cai, acontece um acúmulo de ácidos, e menor eficiência alimentar. Do ponto de vista do bem-estar não dá para olhar o rumen, mas dá para olhar a condição corporal, avaliar a marcha, avaliar a locomoção, e dá para identificar que o padrão alimentar pode estar afetando o bem-estar da vaca.  
 
Para De Frain a relação entre lesões de pescoço e o uso de canzis é vista da seguinte forma. A vantagem do canzil é que garante que a vaca tem oportunidade de consumir ração sem ser deslocada pelas outras. Mas adverte: "nós não devemos ter mais vacas na baia do que canzil, principalmente as recém-paridas, isso vai fazer com que tenhamos um número maior de refeições por dia e aumentar a chance de ter um rúmen saudável".  
 
Quanto ao desempenho reprodutivo Jeff advertiu que a função reprodutiva de vacas com claudicação acaba caindo de forma acentuada. A claudicação aumenta o número de dias em que a vaca fica vazia. Com isso diminui o desempenho reprodutivo do rebanho. Ou seja, há uma conexão clara entre claudicação e reprodução. O especialista mencionou vacas com claudicação que não ovulavam no programa de sincronização, ou que não respondiam à suplementação exógena. Portanto, reduzir a claudicação também pode melhorar a reprodução do rebanho.

Práticas que  melhoram o bem-estar
"O mais importante quando se trata de conforto animal é observar a vaca em sua interação com o ambiente. O produtor está sempre muito ocupado cortando pasto, preparando ração, coletando esterco, e não tem tempo para observar as vacas. Mas não basta apenas observar, também tem de 'ouvir' a vaca para identificar problemas de infraestrutura, como lesões de jarretes que são simples e fáceis de resolver".  
 
A colocação foi feita pelo professor e pesquisador de bem-estar animal Daniel Weary , da Universidade da Colúmbia Britânica, durante palestra sobre Práticas de Manejo que Melhoram o Bem-Estar dos Bovinos Leiteiros. A bagagem de 15 anos de pesquisas científicas da instituição em busca de métodos práticos para melhorar a saúde e produtividade das vacas leiteiras permitiu ao pesquisador dizer que:  
// As vacas são muito sensíveis a superfícies, mas nem todas escolhem o mesmo tipo de superfície, não apenas para se deitar mas também onde caminhar;  
 
// Camas secas e limpas são as preferidas pelas vacas;  
 
// Na melhor condição possível as vacas passam 13,5 horas deitadas. À medida que a cama de areia é reduzida o tempo de repouso cai quase 1 hora. E depois de 9 dias tem um buraco no meio cama no free-stall. Ou seja, sem manutenção das camas o tempo de repouso das vacas cai rapidamente.  
 
De acordo com Daniel essas pesquisas foram estendidas para outras granjas para comparar resultados em diferentes propriedades numa região onde os produtores são muito competitivos. O projeto começou com 45 granjas, o segundo estágio foi estendido para 100 granjas na Califórnia (EUA) e também para o noroeste americano, Estado de New York. E a cada mês estão sendo incluídas novas granjas principalmente nos Estados Unidos. E essas três regiões são bem diferentes uma da outra.  
 
Como resultado desse estudo o produtor recebia um relatório (confidencial) que descrevia e analisava as condições da sua granja. Então junto com seu nutricionista e seu veterinário analisava essas informações para decidir se era necessário fazer alguma mudança. Nesse relatório ele via os seus números e as médias do pessoal da região, sem identificar ninguém, o que permite que ele se compare aos outros da região! A grande vantagem é que isso ajuda o produtor a identificar o problema, ajuda a desenvolver sua própria solução e a melhorar as práticas.  
 
Para Daniel Weary quando pensamos em conforto para vacas precisamos pensar separadamente sobre três coisas. Primeiro, dar às vacas um lugar onde elas possam se deitar: está comprovado que camas secas e altas reduzem a incidência de lesões e aumentam o tempo que as vacas ficam deitadas. Segundo, as vacas passam metade do tempo deitadas e metade do tempo em pé, apoiadas nos pés. E onde ela fica em pé é o mais importante em termos de claudicação. Se o produtor lhes der o poder de escolha jamais elas vão ficar em pé no concreto. Preferem superfícies mais macias e secas, que protegem a qualidade do casco. Terceiro, se usarmos colchões, tapetes de borracha ou concreto com pouca ou nenhuma cama isso é péssimo para o conforto das vacas aumentando o risco de claudicação.  
 
O pesquisador canadense defendeu que as baias devem ser áreas abertas, sem barra de pescoço ou protetores de peito, aumentando o conforto das vacas. "Se restringirmos sua movimentação fazendo com que seja difícil elas deitarem ou até mesmo ficarem em pé adequadamente, isso coloca as vacas sob risco", lembrou ele.  
 
Medindo o bem-estar 
A doutora Anne Marie de Passillé, também pesquisadora de bem-estar animal da Colúmbia Britânica relatou um projeto montado para medir o bem-estar em propriedades leiteiras, que apontou indicadores muito semelhantes aos levantados por Daniel Weary. Ao palestrar durante o Simpósio Internacional, Anne Marie revelou aos participantes que o projeto visitou 240 granjas onde foram selecionadas 40 vacas para serem avaliadas medindo uma série de parâmetros como: escore de claudicação, limpeza, peso, tipo de lesão, qualidade da cama, medida do cubículo, umidade, tipo de piso, se era escorregadio ou não, e também eram aplicados questionários aos gerentes sobre manejo. As granjas foram visitadas duas vezes.  
 
Ao final da segunda visita apresentou- -se um relatório para o produtor, que foi discutido com ele, avaliando os pontos fortes e pontos fracos na granja, e o que poderia ser feito para melhorar. Posteriormente, um novo relatório foi enviado estabelecendo a comparação do produtor com os demais produtores. Nesses relatórios apareciam os 25% melhores e os 25% piores produtores. Um sinal identificava onde estava na escala aquele produtor. A comparação, segundo a doutora, era para evidenciar que, se alguém estava fazendo alguma coisa melhor é porque era possível fazê-la. E ao longo do tempo esse registro permitia documentar a evolução do setor, garantindo ao público que a industria de produção de leite estava respondendo às suas preocupações. Anne Marie disse ainda aos produtores e técnicos participantes do Simpósio:  
// Nós observamos que pouca cama/muito rasa aumentava a incidência de claudicação. Então cama é importante no galpão para reduzir a claudicação.  
 
// Cama de areia reduz a incidência de lesão, mas os colchões aumentam a possibilidade de lesões.  
 
// Qualquer tipo de cama tem um efeito muito grande sobre a incidência de lesões. E quem usa colchão deve colocar cama em cima.  
 
// Areia, colchão, tapete de borracha, todos eles reduzem a possibilidade de lesão quando o animal se ajoelha. Mas é importante que se tenha a cama em cima.  
 
// Pisos de concreto escorregadio também aumentam a possibilidade de lesão nas vacas.  
 
// O primeiro passo para controlar a incidência de lesões é fazer o escore de lesões na propriedade. A solução para lesões de jarrete, de curvilhão, de joelho, é areia ou tipo de cama. E para a região da cernelha, o produtor precisa elevar a barra.