A Safra de Verão na Castrolanda

A Safra de Verão na Castrolanda

Por Edison Lemos

Boa até o começo das chuvas e complicada depois delas, a safra de verão 2012/2013 na Castrolanda caracterizou-se por um ambiente atípico do início ao fim. Houve boas produtividades, mas também houve certo 'estrangulamento' na estrutura de recebimento. E ficaram alguns alertas que precisam ser bem assimilados. O mais importante deles: a concentração da colheita de milho e soja no mês de março vai deixar de ser tendência para virar realidade nos próximos anos. A cooperativa tem de se preparar para secar soja, porque em março, invariavelmente ela vai estar úmida. E vem por aí um aumento do custo de produção da próxima safra.

Os acontecimentos da safra de verão 2013 foram tema de análise e debate pelo setor agrícola da Castrolanda na segunda semana de maio. Reunidos no Memorial da Imigração associados e técnicos se concentraram numa agenda de seis itens que examinou os volumes de grãos recebidos, o comportamento das colheitas de milho e soja, capacidade de secagem e estruturas de manutenção, recepção de sementes, cenários de fertilizantes e agroquímicos para a próxima safra, e novos projetos em desenvolvimento.

"Apesar do decréscimo na lavoura de  milho estamos na média dos últimos anos", informou o gerente de negócios agrícola Márcio Copacheski ao apresentar os volumes recebidos pela cooperativa até a primeira semana de maio de 2013. Pelos dados, embora ainda não finalizada a safra, a Castrolanda já alcançava 400.000 toneladas de grãos. Ele disse acreditar que cooperativa deve ultrapassar as 500.000 toneladas de recebimento neste ano. Entretanto alertou que "se houver um incentivo de mercado para ampliação e retomada das áreas históricas de milho com os níveis de produtividade atuais talvez tenhamos problemas para armazenar e seja preciso pensar em ampliações em algumas unidades".

De acordo com o gerente, a Castrolanda detém atualmente uma capacidade estática para 482.000 toneladas. Isso significa que, graças aos últimos investimentos e até mesmo em função do recuo da área de milho, a cooperativa tem plena capacidade de acomodar as safras de inverno e verão de seus cooperados. Se houver aumento de produtividade nas áreas de milho e soja entretanto, pode haver déficit na capacidade estática de recebimento.

"Se não houver superposição de safras, como ocorreu com o trigo na região de Itaberá, a cooperativa consegue acomodar a produção sem grandes transtornos", garantiu, depois de lembrar que sem os investimentos em Ventania e Itaberá estariam em apuros para receber a produção dos cooperados.

DESAFIO
Durante a análise do comportamento da safra ficou evidenciado que no milho, diferentemente de todos os anos anteriores, neste ano houve a antecipação da entrada de volumes na matriz. Cerca de 80% do milho entrou de forma quase desapercebida: não houve filas e teve boa oferta de caminhões.

Na soja também começou diferente. Houve antecipação da colheita, puxada para o início de março, coincidindo com o recebimento do milho. O produto veio muito úmido da lavoura com até 33% de umidade, com alto índice de grãos ardidos no começo. Com isso, a cooperativa teve de secar milho úmido e soja úmida. Então, pela primeira vez a Castrolanda enfrentou recepção de alta quantidade de soja úmida e milho úmido, o que determinou certo "colapso" nas estruturas de secagem, originando filas e outros problemas.

"O indicativo para os próximos anos é de que temos de nos preparar para secar soja. A tendência é que o pico de colheita de soja ocorra em março e não mais em abril, e isso deve se tornar uma constante daqui para frente, em função do plantio de variedades mais precoces", alertou o gerente de negócios agrícola. Na análise de Copacheski isso cria um cenário novo desafiando a cooperativa a utilizar os mesmos secadores para secagem de milho e soja ao mesmo tempo, no mesmo mês. Em função disso, considera que é preciso contar com um planejamento feito a partir da manifestação do associado, que contemple o recebimento da colheita em 30 dias.

Testadas ao extremo, a capacidade de secagem e a estrutura de manutenção da cooperativa revelaram algumas deficiências e virtudes importantes durante o recebimento da safra, como revelou a exposição feita durante a reunião. Entre os principais acontecimentos houve o incêndio e a perda de dois secadores, e diversas paradas nos secadores dos entrepostos e matriz. "Este ano foi atípico, com muitas paradas devido a objetos estranhos encontrados dentro das moegas", relatou Glemberg Dantas, que coordena o trabalho de 15 funcionários (administrativos, operadores, mecânicos, eletricistas) do setor, que atendem oito entrepostos da cooperativa.

"A matriz tem capacidade de receber até 8.000 toneladas de grãos com até 28% de umidade no milho e até 18% de umidade na soja, mas essa capacidade é reduzida pelos tombadores, cujo rendimento é diminuído pelos caminhões 'toco'. Quanto maior o número de caminhões pequenos, menor é o rendimento, e quanto maior o número de carretas ou bi-trens, melhor a média de tempo no tombamento", alertou o gerente Márcio, comentando sobre o rendimento na secagem e a experiência das filas para descarga.

Aliás, ele considera que "não há necessidade de ampliar a capacidade de recepção no curto prazo", e acha que a matriz não deve segregar produtos para que tenha melhor rendimento no seu fluxo de recebimento. Copacheski também considerou muito positiva a experiência da cooperativa que, pela primeira vez contratou safristas mulheres, que se revelaram uma excelente opção, pela pontualidade, comprometimento, disciplina e limpeza nos ambientes onde atuam.

SEMENTES
Em relação ao recebimento de sementes ficou demonstrado aos associados que houve um período de chuvas de 10 a 20 de março (pico de colheita), que determinou perda de vários campos de diversas cultivares por excesso de chuva. Cerca de 2.300 hectares (26% da área inscrita) se perderam em função da baixa qualidade, por grãos chuvados, grãos ardidos, e dificuldades com doenças. Com tudo isso, o planejamento de produção e condução das lavouras ainda tornou possível chegar a 340.000 sacas com toda dificuldade de recepção.

Desde o início da safra o setor enfrentou dificuldades no campo, na recepção e na estrutura de recebimento. Destaque para a ocorrência de percevejos, mofo branco, atraso no plantio e plantio simultâneo, alta precipitação no mês de março, impossibilidade de entrar com máquinas no campo, maturação forçada, coincidência de colheita de diferentes espécies e diferentes cultivares, filas e atrasos nas descargas, falta de espaço físico e improviso na armazenagem com redirecionamento das cargas para outras unidades.

Entretanto, ficou demonstrado que o setor também apresentou evolução, firmando parceria com grandes empresas como Nidera e Syngenta, atraídas pelo comprometimento da cooperativa e seus produtores com a qualidade dos materiais; a entrada em funcionamento da nova estrutura de recebimento, secagem e armazenagem a granel da UBS de Castro para 16.500 toneladas; e a melhoria na estrutura de armazenagem BAG. "Neste ano duplicamos a produção de sementes. E estamos confiantes que o volume que nos propusemos a fazer será feito, e não teremos falta de sementes, considerando os principais materiais utilizados na região", disse o gerente Márcio.

CUSTO EM ALTA
Comentando o cenário do mercado de defensivos e fertilizantes para a próxima safra, a agrônoma Andrea Toniolo Kubaski, responsável pelo setor, disse observar cenário altista para próxima safra. Todas as empresas, segundo ela, estão jogando os preços para cima, justificando com alta de dólar (negociado na faixa de 1,75 na safra anterior) agora situado na faixa de 2,00 a 2,10 reais. A profissional chamou a atenção especialmente para o produto Glifosato.

Disse que ele está em falta no mercado mundial e está tendo uma grande alta de preço. Concorrem para isso fatores como: aumento de consumo ao nível mundial devido às culturas transgênicas (milho, soja, algodão); aumento do preço do sal importado da China (equiparando-se aos preços praticados pela Monsanto); a redução da entrega do sal a empresas de genéricos; o aumento de rigor do governo Chinês com o Meio Ambiente (fábricas de sal estão sendo fechadas, reduzindo o fornecimento para os fabricantes de genéricos no Brasil).

Com o mercado de Glifosato centralizado na mão da Monsanto, atualmente a principal fornecedora do sal para a maioria das empresas de genéricos, o cenário do Glifosato é altista neste ano e no próximo ainda, disse Andrea. A agrônoma revelou ainda que o setor desenvolve estratégia de compra de sementes de feijão e forrageiras através da seleção de fornecedores. Já a compra de sementes de milho prevê negociação conjunta com as cooperativas co-irmãs, Batavo e Capal. O gerente de negócios agrícolas entretanto disse não acreditar que os fertilizantes assumam o papel de 'vilão' do aumento de custo de produção da próxima safra. Márcio Copacheski acredita que as sementes vão impactar mais do que os fertilizantes. O encontro de agricultores foi concluído com um relato do coordenador da Assistência Técnica Agronômica Castrolanda (ATAC), agrônomo Norberto Luiz de Oliveira Neto, que informou sobre a criação de um núcleo de prestação de serviços em agricultura de precisão, onde a Castrolanda em parceria com a Fundação ABC vai levar aos agricultores a possibilidade de implantar projetos nessa área. Detalhou que a cooperativa deve entrar com a estrutura de máquinas, prestando serviços, visando viabilizar essa tecnologia principalmente aos pequenos e médios agricultores que teriam maior dificuldade de acesso. Com isso, entre outros objetivos, pretende- -se aumentar os níveis de produção e produtividade das principais culturas da região.