A agricultura no MAPITO – Impressões da Expedição Castrolanda

A agricultura no MAPITO – Impressões da Expedição Castrolanda

Entre os dias 13 a 19 de janeiro de 2013, o grupo de  Engenheiros Agrônomos da área técnica da Castrolanda estiveram visitando os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, acompanhados de mais 5 produtores associados de nossa cooperativa. O roteiro foi a terceira etapa do Projeto “Fronteiras Agrícolas”, idealizado e realizado pela área agrícola com o apoio financeiro da Arysta Life Sciences.

Assim como nas primeiras duas edições em anos anteriores para os estados do Mato Grosso, Goiás e Bahia, a viagem teve como objetivo principal conhecer a realidade  da produção de grãos, fibras e energia nos estados já relacionados, a organização das cadeias produtivas, o fluxo de informações e de insumos, as estratégias e o planejamento dos produtores, bem como sua infraestrutura de produção e escoamento da safra. Também buscamos conhecer instituições de pesquisa regionais e empresas de sementes, biotecnologia e insumos.

Nosso roteiro partiu de Curitiba com destino a Imperatriz já no estado do Maranhão, onde o grupo se dividiu em 5 equipes, que partiu em comboio de pick-ups 4X4 para o roteiro previamente planejado. A experiência diferente de dividir o grupo, uma preocupação da organização da expedição, foi tranquila com um clima de cooperação, segurança e organização.
           
PERFIL DAS PROPRIEDADES E O NÍVEL TECNOLÓGICO
Chegando em Balsas – MA, o principal polo de produção agrícola do estado, fomos recebidos na FAPCEN – Fundação de Apoio e Pesquisa ao Corredor de Exportação Norte pelo Secretário de Agricultura do Estado, onde recebemos as boas vindas e assistimos às apresentações com as características e potencialidades do Estado e da região. Recebemos claramente a mensagem de que o Estado busca, além da sua forte expansão na agricultura, atrair investimentos voltados à agro industrialização, principalmente fomenta a formação de cooperativas buscando a organização da produção e a agregação de valor. Um dos pilares para o futuro são as obras de melhorias no Porto de Itaqui, que se concretizadas irá transformar o potencial exportador e o perfil do Estado no agronegócio brasileiro. Com uma população de cerca de 6 milhões de habitantes, uma área de 9,8 milhões de hectares e um IDH de 0,57 o Estado caminha a passos largos em busca de seu fortalecimento como um celeiro na produção de grãos em nosso país.

O perfil das propriedades no Estado se caracteriza à primeira vista, como toda fronteira agrícola, pelo empreendedorismo e pioneirismo de agricultores migrantes, principalmente do Rio Grande do Sul e Paraná, que iniciaram os trabalhos de abertura das áreas e adaptação destas para uma agricultura moderna e produtiva. A escala difere de nossa região, onde visitamos fazendas com áreas desde 3.500 hectares, considerada uma média propriedade, até fazendas de mais de 20.000 hectares, com uma estrutura interna que se aproxima de uma pequena cidade, devido ao seu porte.

Normalmente, devido à distância, as propriedades necessitam ter uma vida própria para o seu funcionamento normal, principalmente em períodos críticos como plantio e colheita. Oficinas completas, peças, ferramentas e treinamento dos operadores e manutentores foi uma observação interessante para nossa equipe. De certa forma, tudo isso, reflete no custo de produção das culturas de grãos e justifica a necessidade de grandes áreas para absorver toda a estrutura necessária na fazenda, diferente de nossa região que dispomos de apoio nesse sentido próximo às cidades.

Observamos também, além da infraestrutura enorme, o perfil dos agricultores, que administram e gerenciam de forma muito profissionalizada o seu negócio. Na maioria das propriedades, notamos que as lideranças das equipes ainda tem origem nos estados do sul, com uma cultura produtiva muito parecida com a nossa, buscando desenvolver equipes e operadores locais, porém com uma certa dificuldade. O intenso trânsito de máquinas modernas, como pulverizadores autopropelidos, plantadoras gigantes, assim como tratores e colhedoras do máximo porte disponível é algo notável. Todas as glebas são planejadas em seu tamanho, orientação e logística nas operações diversas durante o ciclo. Como a topografia, na maioria das propriedades é extremamente plana, as glebas são maiores e geometricamente planejadas.

Os cultivares, em sua maioria já adaptados ao clima e solo locais, entregam uma produtividade muito similar à nossa. Também tivemos muitas oportunidades de discutir no campo os principais problemas de pragas, doenças, plantas daninhas e estratégias de manejo com os agricultores e suas equipes técnicas durante todos os dias de nossa expedição. Nossos agrônomos puderam ver e comparar diferentes sistemas produtivos e formas de orientação técnica que enriqueceram seu conhecimento e percepção da grandeza e do potencial da região. Destaque para as Fazendas Ipê, Condomínio Boa Esperança e Fazenda Carolina do Norte em termos de organização e resultados.

A produção de sementes na região é extremamente difícil pelo clima e pelo baixo potencial de vigor e viabilidade, gerando uma baixa qualidade fisiológica das sementes, necessitando armazenamento refrigerado para a manutenção da frágil viabilidade das sementes locais, encarecendo em demasia o seu custo de aquisição. Em muitas vezes as sementes de soja são oriundas da região de Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães na Bahia, com melhor qualidade fisiológica.

Ainda existe espaço para a abertura e crescimento em área, isso pode ser observado nos deslocamentos pelas estradas rurais, onde ainda vemos em todos os lados áreas sendo abertas e disponibilizadas para a produção. Os preços das áreas varia muito, dependendo de sua localização, tipo de solo e regime hídrico, mas de maneira geral, ainda apresentam oportunidades para agricultores que desejam ampliar seus negócios e expandir em área, algo que praticamente não dispomos mais em nossa região.

No Estado do Piauí, as propriedades tem uma mesma característica e perfil de gestão, tendo o mesmo comportamento em termos de tecnologia, logística da produção e capacidade produtiva. No Tocantins, visitamos uma propriedade na região denominada Lagoa da Confusão, com produção de arroz irrigado com produção de soja semente na safrinha, bastante diferente e peculiar, porém extremamente organizada e inovadora.
                       
O FLUXO DE INFORMAÇÕES E O PAPEL DAS CONSULTORIAS
Em todas as etapas, seja no Maranhão, principalmente no polo de Balsas, como no Piauí e no Tocantins, fomos acompanhados pelos colegas das consultorias locais, principalmente  da Insolo, Impar e Campeira onde de forma muito profissional demonstraram a forma de trabalho, como se relacionam com os agricultores na sua escala característica, bem como da logística no trabalho durante os dias da semana.

A maioria dos profissionais são, assim como as lideranças nas fazendas, de origem do sul e sudeste, proveniente de boas universidades e com um conhecimento sólido de agricultura e tecnologia para a região. Normalmente, dado às distâncias, o profissional tem um criterioso roteiro semanal de trabalho, saindo na segunda feira de sua base e retornando somente aos sábados à noite, pernoitando nas fazendas ao longo do roteiro de visitas planejados. As vistorias são quinzenais na sua grande maioria, com algumas propriedades requerendo visitas semanais. Todas as consultorias dispõem de áreas experimentais onde testam e validam os tratamentos e cultivares que recomendam, assim como realizam os dias de campo com o seu grupo de agricultores.

Os preços pagos pela assessoria agronômica em média é 30% mais barata por hectare assistido quando comparado com o nosso modelo de assistência mais a Fundação ABC, pois a escala permite á um engenheiro agrônomo assistir de forma profissional 15 a 20 mil hectares ou mais em algumas situações. Normalmente os profissionais são contratados pela empresa de consultoria e são remunerados de forma assalariada, atendendo a um grupo de agricultores com perfil parecido e com logística e localização que permita um roteiro quinzenal nas propriedades. Observamos uma grande capacidade de comunicação dos profissionais, totalmente adaptados ao atendimento à agricultores empresários com um bom nível de entendimento e conhecimento. Como ponto negativo relatado pelos profissionais, o principal é conviver longe da família o tempo todo e a falta de estrutura nas cidades, o que dificulta a adaptação da família oriunda de regiões muito diferentes, fazendo com que muitos trabalhem por um período médio de 5 anos e retornem para outras oportunidades profissionais no sul e sudeste.

O FORMATO DE AQUISIÇÃO DE INSUMOS
Visitamos revendas de insumos na região de Balsas, onde tivemos a oportunidade de conhecer o formato de negociações e o fluxo de insumos na região, principalmente agroquímicos, fertilizantes, micro nutrientes, adjuvantes e sementes. Normalmente as revendas atendem uma área geográfica enorme compreendendo os estados do Maranhão e Piauí e algumas tem postos avançados ou filiais para um melhor atendimento.

As negociações com troca de insumos em forma de pacote por um volume pré definido de grãos é comum e praticado com frequência, significando um grande volume de negócios em um curto espaço de tempo e no restante focam no atendimento ao cliente, muitas delas com assistência técnica e prestação de serviço em agricultura de precisão.

Porém, a maioria das negociações de insumos acontece nos chamados “pools de compra” capitaneados e gerenciados pelas consultorias agronômicas, que além da assistência técnica personalizada, trabalham muito forte na formação de grupos de produtores que buscam a aquisição de insumos de forma planejada, organizada e em conjunto. Isso tem demonstrado uma alta eficiência na aquisição de insumos diretamente às multinacionais do setor com descontos muitas vezes superiores ao que as cooperativas da nossa região conseguem. É comum um pool de compras ter uma área superior a 150 mil hectares em sua carteira e negociar tudo em bloco formado por representantes dos produtores que formam um comitê para a organização e definição dos pacotes e do portfolio de produtos à serem adquiridos, já validados nas áreas experimentais das consultorias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como nas edições anteriores, a viagem ao MAPITO foi cansativa, mas extremamente proveitosa. O dia a dia corrido pelas estradas desconhecidas, as visitas e as discussões em grupo foram extremamente enriquecedoras para nossa equipe técnica e para os agricultores que acompanharam. É gratificante ver nos olhos dos agrônomos a alegria de visitar uma região nova, diferente e para quem gosta de agricultura foi realmente um “presente” e não somente uma oportunidade.

Apesar do eminentemente foco técnico, incluir produtores no grupo foi uma experiência gratificante, principalmente nos depoimentos verificados por eles nos fechamentos e discussões finais. O envolvimento, a aproximação e a amizade desenvolvida durante a semana formam laços definitivos, duradouros e como dizia um agricultor “para a vida toda”.

Agradecemos à todos os envolvidos na organização, principalmente a NPK, na pessoa do Nadiel, um grande companheiro e apoiador das viagens técnicas. Aos participantes pelo espírito aberto ao aprendizado constante e ao companheirismo e amizade demonstrados, reforçando nosso espírito de equipe e à Castrolanda por oportunizar aos participantes tão enriquecedora experiência. Fica o desafio de organizar viagens técnicas melhores a cada ano.